terça-feira, 13 de julho de 2010

O milagre das rosas






























"Romance da Rainha Santa Isabel"

Peço graça com fervor
Do divino Manuel,
Para que haja de rezar
Da Rainha Santa Isabel:
Em Saragoça nascida,
Segundo a oração diz,
Foi rainha mui querida,
Mulher d’el-rei Dom Dinis;
Aos pobres socorria
Com entranhas do coração
Pois de ninguém se fiava,
Sua esmola apresentava
Com a sua própria mão.
Vindo a “santa” um dia,
Com seu regaço ocupado,
Pelo tesouro que havia,
Com el-rei eis encontrada!
«Que levais aí, Senhora?
Levo cravos e mais rosas,
Para mais nossa alegria.
Bem sei que levais dinheiro,
Segundo sois costumada;
Antes que muito me cheira,
Rosas em Janeiro,
É de maravilha achá-las!»
A Senhora
O seu regaço lhe amostrou,
Cravos e rosas achou,
Um cheiro que admirava.
«Ó rainha excelente!
Meu tesouro podeis dar,
Minha coroa empenhar
Porque tudo estou contente.»
Estando a “santa” um dia
Na sua sala sentada,
Chegou-lhe um pobre chagado,
Se o podia arremediar;
Ela lhe disse
Com palavras de amor:
«Mandarei chamar o doutor,
Que vos haja de curar.
Senhora, se queredes
Ter o vosso coração inflamado,
Deitai-me na vossa cama,
Que eu serei remediado.»
A Senhora
De pés e mãos o lavou,
Na sua cama o deitou.
Um cavaleiro, que no paço
Havia encontrado,
A el-rei tudo é contado.
Vindo el-rei muito agastado,
Com tenção de a matar,
Contra a clemência que usava;
Na cama onde repoisava
Deitar um pobre chagado.
A Senhora correu o cortinado,
Achou Jesus crucificado!
Muito chorou o rei com ele
Dos milagres, que ela tinha obrado.
Em Estremoz acabou
Em Coimbra está sepultada,
No convento que formou
De Santa Clara sagrada.

in Romanceiro e Cancioneiro Popular Português

Sem comentários: