sábado, 24 de julho de 2010

"O Amor e o Poeta" - Fernando Girão

Queria escrever-te um poema de amor
que tivesse palavras como carinho, alegria, cor.
Queria eternizar-te através da minha caneta,
dizer-te o que ninguém jamais disse,
fazer-te feliz para o resto do tempo
que ainda resta, ter-te como exemplo.
Tu és o templo onde eu entro e vou rezar,
queria tanto amar-te e esquecer tudo o resto.
Publicarei manifestos para que o mundo saiba
que o amor opera milagres, que o amor tudo transforma,
que o amor só tem uma norma,
só exige que haja paixão.
O amor anda um passo adiantado
e já o poeta o mesmo não pode dizer,
o amor esquece as guerras,
o poeta fala nelas.
O amor sorri porque existe,
o poeta conta histórias tristes,
não esconde o lado escuro da vida,
põe a boca nas feridas
que fazem sofrer o mundo.
O amor é complacente dentro de um certo limite,
mas se o amor é traído
pode ser mais perigoso
do que um tigre enlouquecido
que alcança o seu caçador.
Aí então o amor
torna-se irmão do poeta
e junta-se à caneta
que escreve as palavras mais duras
e nenhum dos dois atura
essa espécie de tortura
que é ser escravo da dor.

de Fernando Girão
retirado de
http://www.fernandogirao.com/

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