quarta-feira, 29 de março de 2017

"Agora que sinto amor" d'"O Pastor Amoroso" - Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) dito por Ricardo Carriço



  • Agora que sinto amor
    Tenho interesse no que cheira.
    Nunca antes me interessou que uma flor tivesse cheiro.
    Agora sinto o perfume das flores como se visse uma coisa nova.
    Sei bem que elas cheiravam, como sei que existia.
    São coisas que se sabem por fora.
    Mas agora sei com a respiração da parte de trás da cabeça.
    Hoje as flores sabem-me bem num paladar que se cheira.
    Hoje às vezes acordo e cheiro antes de ver.
    23-7-1930
    “O Pastor Amoroso”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa.

terça-feira, 28 de março de 2017

"I Feel So Blessed" - Budda Power Blues & Maria João




"Rai’s’me’parta... um gozo antigo, indizivel...clandestino!" de Pedro Barroso

Rai’s’me’parta…
Quando te quis, adolescente, disseste-me q não
Olhaste-me jocosa e com desfaçatez
Nunca percebi porquê, tamanha má vontade
Mas nunca me incluíste nos tais privilegiados
e sempre achei q escolhias muito mal de cada vez…
Eram os maiores malandros do liceu
Cábulas, brutos, galifões, até drogados
teus eleitos eram sempre muito estranhos
malandros, rufias, maus alunos na verdade…
Hoje, os anos passaram num instante
e pouco mais te vi nesta roda galopante
onde o tempo é alazão de vento e nós saudade.
Tropeçámos na vida 2 vezes, no máximo…se tanto
e em ambas me olhaste de longe, com sorrisos
talvez de desafio, talvez cumplicidade
talvez até de gozo; mas nunca de carinho.
Ora bem,
eu queria-te toda. Sim, toda, simplesmente.
Mas tive é claro, que inventar outro caminho;
nem sempre imediato, ou fácil e evidente.
Ponto final. Pronto. Vivi intensamente.
Há q sabermos crescer com a nossa idade.
Mas eis q a mulher linda q eu quis, nunca esquecida,
o tal sonho juvenil de tesão - o tal amor de fogo! -
saltou-me aos braços, ontem, de repente
numa esquina do acaso, por graça acontecida
- Já tão no fim do campeonato; agora!…último jogo!...
E abraçaste-me o peito, envelhecida
Lembrando o q nunca fomos noutra vida
Espelho de mim - este trapo que hoje sou e tão diferente
mas o desejo… velha amiga mal esquecida
onde anda? porque fugiu? para onde foi?
- por que raio o tal passado é tão presente?...
E ao pensar nisso, ainda há algo distante q me dói.
Mas já nada em ti me atrai – confesso - infelizmente …
Desconcerto amoroso, diz Camões
Ai mulher, qd eu te queria tanto, não quiseste!
E hoje sou eu q quero lá saber - é já tarde para lições
de moral ou conselhos inúteis, retardados…
Quando éramos - não fomos; não apeteceste.
Hoje apetecias-me tu, e eu sobrei-te agreste…
- Andámos toda a vida equivocados
Eu, por excessos de mim que não cumpri
Tu por excesso de amores tão mal filtrados…
E o abraço q te dei na despedida
Confesso q não me deu a paz q eu queria e merecia
Pq a raiva dessa injustiça de qd era menino
Habita-me a memória ainda. Culpa tua.
Eu que te quis tanto; que te sonhei nua...
Que burra foste, mulher, que desatino!
Tu q a tantos te deste, frivola, sensual, imerecida…
se eu era afinal tão mais, e tanto, e tão melhor!
E tu bela, linda, escultural e provocante…
E eu tao cheio de valores q não sentiste, distraída.
É sempre assim, - rai’s’me’parta - o meu destino
Andaste com tudo o q era bruto e ignorante
Bem feito- quiseste apostar num cavaleiro andante
Mas acabaste errando muito mesmo o figurino!
É bem feito. Ora toma! Já de nada me serve, mas confesso:
- a vingança desse enorme desgosto de menino
chegou tarde. Mas deu-me um certo gozo meio secreto
um gozo antigo, indizivel...clandestino! 
retirado de Facebook de Maestro.Pedro.Barroso