quinta-feira, 27 de novembro de 2008

"Conversão" - Horácio Lopes

Empoleirado, sobranceiro,
do alto do meu egoísmo
vi-Te, ao longe, a passar...
Mísero verme eras Tu,
sem forças sequer para olhar
e menos para pedir ajuda!
Levado por não sei que rasgo,
empreendi o caminho
que me fez descer a Ti.
Não para Te ajudar, decerto,
mas para Te dizer de mim...
e de como fazer para ser grande.
E tal foi a minha sorte
que nesse teu beijo verme
desnorteaste o meu rumo...
Enlouqueceu-me esse olhar...
Apossou-se do meu ser
um não-sei-quê que Tu tens
e eu, confesso!, invejo...
Não foi preciso mais nada:
Perdi o caminho de volta,
desencantou-me o regresso...
Rastejamos agora os dois,
unidos no mesmo corpo,
no mesmo coração e querer,
em igual sonho e destino...
Fiquei todo seduzido
por esse teu rastejar,
que Te põe como quem voga...
e quero contigo vogar,
eu em Ti e Tu em mim,
não contíguos, mas contínuos,
sem que possa separar-nos
lei nem grei, nem vida ou morte...
Porque o meu viver és Tu!

(Horácio Lopes in "Diz-me")

Sem comentários: