quarta-feira, 6 de maio de 2009

"Espelho" - Nuno Júdice

Às vezes queria ter apenas uma palavra
para te ver, tão leve como a flor, ou
tão doce como o amor; queria saboreá-la,
como se fosse um torrão - ou dizê-la

como fácil suspiro, sem dor nem tristeza.
De outras vezes, queria envolvê-la numa
espuma de frases, escondê-la sob a névoa
do verso, ou atirá-la ao vento que a

confundisse com a mais branca nuvem.
Mas essa palavra só existe porque diz
o que és, quando a digo; e se a não
digo, também o silêncio se transforma
em palavra, para que o espelho do poema
se abra, e nele o teu rosto me sorria.

(de O Breve Sentimento do Eterno de Nuno Júdice)

1 comentário:

Doce disse...

Adoro ver o nosso reflexo no espelho... o nosso sorriso!