"Uma mulher houve. Maria. Cedo partiu, no princípio do século XX, da ilha do Pico para os Estados Unidos, onde a esperava uma vida árdua e solitária. Em oitenta e quatro anos de vida, só uma vez, por um curto período de férias, voltou aos Açores. Mas isso foi bastante tempo antes de eu nascer, de modo que nunca a conheci. O seu nome, no entanto, baila-me na memória desde os tempos mais remotos. A sua lenda acompanha-me desde sempre como um conto de embalar. Há muito sonhava poder escrever a sua história. Ou melhor, uma história inspirada na sua história."
Judite Jorge
E Maria disse:
"A coisa mais custosa para mim na vida é isto, é a gente não poder aliviar a dor dos outros, não a poder viver por eles..."
E seu irmão Francisco Homem, numa festa, cantou um dia:
"Ó meu amor da minha alma
Eu ainda não desisti.
Como queres que eu desista
Se eu sempre por ti morri?"
De um livro que eu li - Afectos de Alma de Judite Jorge - Publicações Dom Quixote, 2001
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