sábado, 31 de julho de 2010
"Dá. Há."
Na voz do teu entendimento
Há algo para ter a haver?
Na carência do teu movimento
O entender de mim na tua voz
É a tua voz de olhar sereno
É longe teres-me parte-noz
O teu olhar na tua voz pequeno
Dá parte de tudo a nós
Na voz do nosso ser sós
Há parte de facto, veloz
Na presença do sentir-pós
de F.J.O.C.
sábado, 24 de julho de 2010
"O Amor e o Poeta" - Fernando Girão
Tive vida
Assim como um vazio do luar
Tive receio que chegasses
Assim repentinamente sem avisar
Tive a expectativa do paraíso
Imposta pela vida, pelo caminhar
Tive a coragem séria, fui atrevido
A cegar-me na jornada deste deambular
Tive tempo e ensejo de tudo
Tal foi a entrega de apaixonar
Tive as certezas sempre, mudo
Tal como senti logo o teu amar
Tive futuro em cada momento
Outro caminho não advinhei
Tive vida sem sofrimento
Oxalá venha mais do que esperei
Medo, receio
Expectativa, coragem
Tempo, certezas
Futuro, vida
de F.J.O.C.
domingo, 18 de julho de 2010
O mar revolto e frio
De vento, água e sal feito
De lá entrar de coragem-brio
Salgado na pele teve efeito
Com luz longe e ar quente crio
A solta vontade e jeito
De saber e ter contigo poderio
Até se ter em nós todo o peito
de F.J.O.C.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
“Sete Letras” - Marisa Pinto
Esta palavra saudade
sete letras de ternura
sete letras de ansiedade
e outras tantas de aventura.
Esta palavra saudade
a mais bela e mais pura
sete letras de verdade
e outras tantas de loucura.
Sete pedras, sete cardos, sete facas e punhais
sete beijos que são nardos
sete pecados mortais.
Esta palavra saudade
dói no corpo devagar
quando a gente se levanta
fica na cama a chorar.
Esta palavra saudade
sabe a sumo de limão
tem o travo de amargura
que nasceu do coração.
Ai! palavra amarga e doce
estrangulada na garganta
palavra como se fosse
o silêncio que se canta.
Meu cavalo imenso e louco
a galopar na distância
entre o muito e entre o pouco
que me afasta da infância.
Esta palavra saudade
é a mais prenha de pranto
como um filho que nascesse
por termos sofrido tanto.
Por termos sofrido tanto
é que a saudade está viva
são sete letras de encanto
sete letras por enquanto
enquanto a gente for viva.
Esta palavra saudade
sabe ao gosto das amoras
cada vez que tu não vens
cada vez que tu demoras.
Ai! palavra amarga e doce
debruçada na idade
palavra como se fosse
um resto de mocidade.
Marcada por sete letras
a ferro e a fogo no tempo
Ai! palavra dos poetas
que a disparam contra o vento.
Esta palavra saudade
dói no corpo devagar
quando a gente se levanta
fica na cama a chorar.
Por termos sofrido tanto
é que a saudade está viva
são sete letras de encanto
sete letras por enquanto
enquanto a gente for viva.
Ary dos Santos
Caminhar
Caminho ao som do meu que dispara
Com o teu olhar-luz a chamar-me
Flutuo sem reservas e alarme
Vôo firme de quem tudo de Ti sente e ama
Quero ficar sem dormir
Preciso não adormecer porque vais aparecer
Quero esperar o teu sentir
Preciso ver-te e respirar-te e ter
de F.J.O.C.
terça-feira, 13 de julho de 2010
O milagre das rosas
"Romance da Rainha Santa Isabel"
Peço graça com fervor
Do divino Manuel,
Para que haja de rezar
Da Rainha Santa Isabel:
Em Saragoça nascida,
Segundo a oração diz,
Foi rainha mui querida,
Mulher d’el-rei Dom Dinis;
Aos pobres socorria
Com entranhas do coração
Pois de ninguém se fiava,
Sua esmola apresentava
Com a sua própria mão.
Vindo a “santa” um dia,
Com seu regaço ocupado,
Pelo tesouro que havia,
Com el-rei eis encontrada!
«Que levais aí, Senhora?
Levo cravos e mais rosas,
Para mais nossa alegria.
Bem sei que levais dinheiro,
Segundo sois costumada;
Antes que muito me cheira,
Rosas em Janeiro,
É de maravilha achá-las!»
A Senhora
O seu regaço lhe amostrou,
Cravos e rosas achou,
Um cheiro que admirava.
«Ó rainha excelente!
Meu tesouro podeis dar,
Minha coroa empenhar
Porque tudo estou contente.»
Estando a “santa” um dia
Na sua sala sentada,
Chegou-lhe um pobre chagado,
Se o podia arremediar;
Ela lhe disse
Com palavras de amor:
«Mandarei chamar o doutor,
Que vos haja de curar.
Senhora, se queredes
Ter o vosso coração inflamado,
Deitai-me na vossa cama,
Que eu serei remediado.»
A Senhora
De pés e mãos o lavou,
Na sua cama o deitou.
Um cavaleiro, que no paço
Havia encontrado,
A el-rei tudo é contado.
Vindo el-rei muito agastado,
Com tenção de a matar,
Contra a clemência que usava;
Na cama onde repoisava
Deitar um pobre chagado.
A Senhora correu o cortinado,
Achou Jesus crucificado!
Muito chorou o rei com ele
Dos milagres, que ela tinha obrado.
Em Estremoz acabou
Em Coimbra está sepultada,
No convento que formou
De Santa Clara sagrada.
in Romanceiro e Cancioneiro Popular Português
D'hoje
Calor aqui
Verdadeiro meu
Amor de Ti
Cheiro teu e meu
Calor aqui, cá em nós
Verdadeiro meu coração deu
Amor de Ti em dupla voz
de F.J.O.C.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Harmonia
sábado, 10 de julho de 2010
"À fuga da vida"
Corra sempre por tentar viver
Corra sempre por amar
Corra sempre por morrer a amar
Fuja da noite, da escuridão
Fuja de inércia, da submissão
Viva cada dia para melhor
Viva cada hora com mel-sabor
Viva cada minuto a sorrir
Viva cada afago a sentir
de F.J.O.C. ("À fuga. À vida.")
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Há tempo
Tudo, o óptimo de viver pelo melhor
Há vivências raras e inesperadas a granel
Todas elas derivadas das opções do nosso suor
Vai uma hora
Perde-se um minuto
Vem-te embora
Torna-te astuto
Há falta e carência diária que vem
Algumas secas e adversas ao momento
Há solidão segura de dentro, a quem
Tudo o que desejas e dás do teu fomento
Anda agora
Ganha tempo
Antecipa a hora
Pinta o advento
de F.J.O.C.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
"Não sei se é sonho, se realidade" - Fernando Pessoa
Se uma mistura de sonho e vida,
Aquela terra de suavidade
Que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
A vida é jovem e o amor sorri.
Talvez palmares inexistentes,
Áleas longínquas sem poder ser,
Sombra ou sossego dêem aos crentes
De que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ah, talvez, talvez,
Naquela terra, daquela vez.
Mas já sonhada se disvirtua,
Só de pensá-la cansou de pensar,
Sob os palmares, à luz da lua,
Sente-se o frio de haver luar.
Ah, nessa terra também, também
O mal não cessa, não dura o bem.
Não é com ilhas do fim do mundo,
Nem com palmares de sonho ou não,
Que cura a alma seu mal profundo,
Que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
Que a vida é jovem e o amor sorri.
de 30/08/1933, Obras Completas I, Fernando Pessoa
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Canseira solitária
Nestes últimos dias, seja saudade ou carência ou do tempo mais ameno de calor, fico com a vontade de me aconchegar a ti o resto do dia, sem mais canseira que me ocupe...
Vim para o meu quartinho, e após mastigar algo leve, deitei meu corpo ao som da nova musica de cá... e deixei-me descansar. Do descanso ao jantar lá se foram duas horas... Despertei, com poucas falas fiquei... não me apetecia falar, não queria incómodo algum, só queria o tal aconchego poder ter de imediato...
Jantei e no meu silêncio introspectivo saí de casa sem destino, um café rápido pensei... Segui sem destino e encontrei-o na escadaria da mata do Menino do Monte de cá, e subi-a só, com pensamentos de nós, ao cair da noite... Escada a escada, imagem a imagem, ideia a ideia de carinho que desejava...
Ao cimo chegado o tal café tomei e logo saboreado logo desci, já à noite sem luar... Sosseguei no passeio sem deixar vir tristeza mas a saudade está em mim, aperta mais o meu mimo...porque é teu o meu aconchego!
de F.J.O.C.